Eu troquei os móveis e a vida de lugar - Prazer, Saierrot

quinta-feira, 9 de maio de 2019

Eu troquei os móveis e a vida de lugar



Em um tempo distante, eu já fui retraída, calada, quieta. Quase não falava se não falassem comigo, me escondia das pessoas, pensava dez vezes antes de falar qualquer coisa. Eu pedia autorização pra brincar e dizia sim pra tudo por medo de ser rejeitada, excluída. Essa cortina que cobria quem eu realmente queria ser deixava tudo muito calmo, tranquilo. 

O sol nascia, o dia passava, eu quieta estava e em silêncio permanecia e, de repente, já era outro dia.   

Era confortável viver assim, nada acontecia, não havia conflito pra resolver. Era gostoso me enrolar nessa segurança. Mas aí chegou o tempo que eu queria mais e não sabia como pedir, como conseguir. A calmaria que eu conhecia e adorava desde sempre se transformou em duas mãos no meu pescoço: me sufocava, deixava sem ar. 

De repente, senti que era a hora de sacudir as minhas cortinas, deixar a coxia rumo ao palco, acordar pra vida e, quem sabe, chacoalhar o meu mundo e pelo menos o de mais alguém. Foi assim que decidi: mudanças são necessárias. A nossa zona de conforto é boa, mas perigosa.

Então levantei cedo, abri as janelas e troquei todos os móveis de lugar. Joguei roupas fora, limpei a gaveta abandonada da cômoda e descobri que ali havia espaço pra um tanto de histórias que eu estava pronta pra viver. Algumas horas depois, o sol me iluminou com força, como se tivesse determinado a me fazer brilhar. 

Respirei com vontade o novo ar que transformava a minha atmosfera. 

Aprendi a me colocar no meu lugar de direito. Deixei pra trás o sim e não sem perguntar o porquê. Entendi que eu sou única e minhas opiniões, conceitos e ideias tem grande valor, assim como eu, então me anular pelos outros deixou de ser uma opção. Me obriguei a falar e percebi que é gostoso ouvir a minha própria voz contando das minhas convicções. 

Antes, o mundo pesava em mim. Agora, parece que não há órgãos dentro de mim de tão leve que me sinto. Colocar adrenalina na nossa vida tem lá as suas vantagens, desde que não estejamos em perigo, é lógico. E eu entendi isso quando fugi de casa a primeira vez, saí de casa com amigos e outras pessoas que mal conhecia, tirei os sapatos no meio da festa, cantei as minhas músicas favoritas a plenos pulmões e cheguei em casa de madrugada. 

A sensação de liberdade de ser eu, de estar viva e, de fato, presente no mundo é viciante. Quanto mais tenho, mais quero. E foi assim que, pouco tempo mais tarde, decidi que sairia de casa em breve. Talvez, num futuro beeem próximo, vou mudar de país. Quero voar com as minhas próprias asas e soltar a mão do que já conhecido. 

Escolhi viver à minha maneira, do meu jeito descontrolado, aventureiro, que não tem roteiro, nem planos. Aprendi a me mostrar pro mundo, gostei de ser o centro das atenções, fiquei entusiasmada por causar impacto. 

É assim que quero viver pelo resto da vida. 

E a lição mais valiosa que aprendi e aprendo cada vez mais é que isso é a vida, é o único jeito de continuar por aqui fazendo história. Precisamos usar nossa voz, nossas habilidades pra transformar o nosso mundo e não nos esconder atrás de padrões antigos e ultrapassados ou morrer de medo de ser diferente. 

A vida é um jogo complexo e nós simplesmente temos que aprender a jogar, se quisermos sobreviver. 

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